sábado, 28 de setembro de 2013

Salinas de Castro Marim

Em Castro Marim, nos sapais, surgiram as salinas entre o Guadiana, o oceano e a mão humana. Trata-se de uma extensão de 300 hectares constituídas por canais e pequenos espelhos de água, em solo argiloso compactado por séculos de labor humano, conjugado com a qualidade ambiental da Reserva Natural e o encontro entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Todos estes factores dão origem ao Sal de Castro Marim, produto natural de alta qualidade.
A temporada do sal é entre Março e Setembro, altura da última colheita, e é constituída pela preparação das marinhas e a produção do sal.
Na primeira etapa é efectuada a limpeza de lodo e lamas, a reparação dos desgastes provocados pelo Inverno e a preparação das águas (entre Março e Junho); o que permite uma maior rentabilidade na quantidade e qualidade de sal recolhido posteriormente. Na preparação das águas, (proveniente do estaleiro e depositada no viveiro de água fria, num processo de decantação para diminuir a taxa de insolúveis), é efectuado o aumento da concentração da mesma entre viveiros. Depois, há que deixar circular a água naturalmente, por gravidade, através de um sistema de viveiros ligados entre si por comportas e canais de ligação, a um ritmo controlado. Quanto maior o percurso percorrido pela água, maior a sua concentração quando chegar aos cristalizadores, e mais rápido se dará a cristalização nos talhos, rentabilizando a produção.
Depois das intempéries do Inverno, o marnoto repara os desgastes e volta a encher os talhos de água, com uma altura ideal de cerca de 8cm, que entretanto já possui uma concentração elevada. O marnoto incumbe-se de controlar a altura da água nos talhos (atestados de 8 em 8 dias), que deve sempre manter constante, aumentando a saturação da água. A evaporação da água dos talhos não deve ser completa, para evitar a solidificação total dos cristais, o que dificulta a sua extracção.
Em meados de Junho, a primeira rasa começa a ser colheita, num total entre 3 a 5 rasas. O marnoto, na sua extracção manual, utiliza o rodo em madeira e uma técnica especial para extrair o sal dos talos e colocar nas barrachas, permanecendo cinco dias ao sol para perder o excesso de humidade. A partir deste momento, está pronto para ser transportado, armazenado e embalado.
Salina mecanizada
Salina manual


A Flor de Sal é constituída por pequenos cristais quebradiços, e deve a sua brancura a nunca ter tocado no fundo da salina. O processo de produção é paralelo à produção de sal marinho. Os cristais de sal que se formam à superfície da água constituem a flor de sal. Possui um sabor delicado, que se prolonga no paladar e acentua o sabor natural dos alimentos, sendo os cristais facilmente desagregados entre os dedos. Destina-se principalmente ao tempero dos alimentos já confeccionados: peixes e carnes já grelhados, legumes cozidos e saladas, pois dissolve-se facilmente e realça o sabor dos alimentos.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A pesca do Atum e Indústrias Conserveiras de Vila Real de Santo António


A Pesca do Atum em Vila Real de Santo António
Na época do Marquês de Pombal (séc. XVIII, até à década de 70), o atum era capturado por toda a costa algarvia. Quando se encontrava no Mediterrâneo, era denominado atum de direito e de recuado, quando passava pela costa algarvia, era denominado por atum de revês.
A captura era efectuada através de almadravas, armações fixas no fundo do mar e de grande complexidade, formando um labirinto de modo a fazer chegar o atum ao “copo” e, com a ajuda de arpões eram colocados dentro das embarcações (no mês de Maio e Junho para capturar o atum de direito e de recuado, e nos meses restantes para capturar o atum de revés).
Após capturados, os atuns eram transportados para as fábricas e colocados no chão para serem descabeçados. Quando eram muito grandes, penduravam-nos numa estrutura presa ao tecto, formando um alinhamento parecido com um arvoredo (por isso denominado de bosque).
Seguidamente, eram esquartejados, separando-se posteriormente a ventresca e o tarantelo, do tronco. Estas eram ainda cortadas em postas para serem cozidas em grandes tachos. Mais tarde, os tachos foram substituídos por bacines, onde a cozedura era feita por serpentinas a vapor.
Frota Piscatória, Homens que vão para o trabalho
Pesca do Atum
Frota Piscatória e antigo jardim
Cais de descarga da Fábrica S. Francisco
Cargueiro Ângelo Parodi e respectivo Cais
Descarga e controlo de peso do atum
Preparação da carga para transporte para a fábrica
Transporte do Atum do Cais para a Fábrica
Transporte do atum para a Fábrica

A indústria conserveira de Vila Real de Santo António surgiu após a fixação dos italianos na vila. Até este momento, as técnicas utilizadas eram primitivas, sendo o atum e a sardinha exportados do Alarve estivados em sal.
No início do séc. XX verificou-se uma progressiva expansão da indústria em Vila Real de Santo António, sendo que em 1903 existiam oito fábricas. Os donos eram na sua maioria de nacionalidade italiana. Por necessidade de apoio a esta indústria, desenvolveram-se a litografia, o fabrico de chaves, a carpintaria, a salga de peixe e a preparação de óleo.
O processo de fabrico era constituído por: o esquartejar do atum, tirava-se a espinha dorsal, colocava-se em tinas para sangrar; posteriormente era cozido e enlatado. Tratava-se de um trabalho incerto, sazonal e nocturno.
Entre muitas, a Fábrica de Santa Maria (de Ângelo Parodi) foi a primeira, fundada em 1879; surgiu também a Fábrica de São Francisco (do espanhol Francisco Rodrigues Tenório), a sua especialidade era atum em escabeche; em 1881 o italiano Sebastião Migone fundou a sua fábrica (vendida a Ângelo Parodi em 1886). A partir de 1884 surgiram outras fábricas, tal como a São Sebastião (fundada por Sebastião Ramirez), a Esperança, a Peninsular e a Guadiana.
Entre 1943 e 1953, VRSA chegou a ter 21 fábricas. Nesta época, os valores em atum e sardinha ultrapassavam várias centenas de toneladas. Esta cidade era o centro mais importante em produção e exportação de atum.
A maioria das fábricas encerrou na década de 70, e as que ficaram abertas acabaram por fechar. Em 2001 fechou a última fábrica de conserva, a Comalpe.

Existe em Vila Real de Santo António uma exposição permanente sobre a pesca de atum nesta época e respectiva indústria conserveira (rótulos, latas da época e vários utensílios utilizados), no Arquivo Histórico Municipal. Aconselho vivamente a visitar, pois possui um vasto património sobre esta época e as indústrias conserveiras, que funcionaram outrora.

Fonte das fotografias: facebook do Sr. Zeca Romão
Fábrica Parodi: descabeçar do atum
Processo de cozedura a vapor do atum

Fábrica Aliança
Fábrica do Grego
Fábrica Sales e Victoria


terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Contrabandista de Alcoutim

Entre a fronteira de Espanha (Sanlucar do Guadiana) e Portugal (Alcoutim) houve sempre algum comércio clandestino. Este contrabando dava rendimento a alguns homens e servia os habitantes das duas margens da ria, através dos produtos transaccionados.
Ainda que ilícita, esta actividade foi muito importante como meio de vida dos habitantes de Alcoutim, por ser mais rentável que a agricultura, a pastorícia e a cerealicultura.

A passagem ilícita fazia-se por toda a margem do rio, a nado, às cargas de trigo, cereais, figos, café, ovos e gado, escassos em Espanha durante o período da Guerra Civil. Os guardas fiscais tinham os pontos de vigia ao longo do rio, e comunicavam entre si com sinais luminosos.
Rio Guadiana acima
 
Vista de Alcoutim para Sanlucar do Guadiana
O Contrabandista

Um dia bem passado na Fuzeta

Fuzeta é uma freguesia do concelho de Olhão, no distrito de Faro. É limitada a Norte e a Oeste pela freguesia de Moncarapacho, a Sul pela Ria Formosa, a Leste pelo concelho de Tavira. Era a antiga freguesia de Nossa Senhora do Carmo, um curato do concelho de Tavira, ao qual pertenceu e posteriormente se separou. Era igualmente conhecida pelos seus pescadores que também estiveram envolvidos na aventura dos descobrimentos, tendo sido os primeiros a pescar bacalhau na Terra Nova, após a sua descoberta em 1500 por Gaspar Côrte-Real.
O povoamento iniciou-se com algumas cabanas, usadas pelos pescadores para guardar todos os aprestos utilizados na pesca de armação praticada neste local. Mais tarde o número de cabana foi aumentando, dando-se a fixação de pescadores que desejavam ter melhor acesso na barra.
O porto de pesca, a praia e toda a zona ribeirinha, cuja recuperação ambiental foi recentemente premiada, são visitas obrigatórias.
Existem ligações regulares por barco para a ilha da Fuseta-Armona.

O passeio  pode prosseguir até aos rectângulos das salinas, as ruínas das atalaias de Torre de Bias, Cumeada e Alfanxina, paralelas à Ria Formosa e ao mar, às nascentes de água dos Olheiros, a norte da Vila, a que se atribuem virtudes medicinais.

domingo, 22 de setembro de 2013

Vila Real de Santo António em Click

Vila Real de Santo António foi fundada em 1774, por vontade do Marquês de Pombal, perto da foz do Guadiana. A cidade foi construída de raíz em apenas dois anos, segundo o padrão iluminista do século XVIII, caracterizado pela planimetria, altimetria e volumetria.
A vila começou a ser construída em 1774 com base num processo de pré-fabrico e estandardização, técnicas que a Casa do Risco das Obras Públicas empregava desde a reconstrução de Lisboa, ficando em Agosto do mesmo ano concluída toda a parte destinada à Sociedade das Pescarias.
Foi rápida a sua construção, pois assim o exigiam as contingências da política face a Espanha e a vontade férrea do Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I (1714-1777). Iniciada a marcação do plano da cidade em 2 de Março de 1774, em 6 de Agosto estavam já concluídas as Casas da Câmara e da Alfândega, os quartéis e iniciava-se a Igreja.
O final do séc. XIX e as décadas seguintes foram de prosperidade para Vila Real de Santo António. A presença de sardinhas e de atum nas águas do litoral algarvio transformaram a vila num importante centro conserveiro, enquanto o seu porto era demandado pelos barcos que subiam o Guadiana para carregar o minério extraído nas minas de São Domingos. A comprovar o seu dinamismo e riqueza refira-se que foi a primeira localidade do Algarve a ter iluminação a gás (1886).

O rigor arquitectónico do Marquês de Pombal está ainda hoje integralmente presente e integrado no eixo urbano. A Praça Marquês de Pombal em conjunto com as históricas ruas pombalinas tece a principal área comercial da cidade. Na Praça encontramos um obelisco central, quatro torreões delimitando os vértices e o edifício da Câmara Municipal e Igreja Matriz.
Marquês de Pombal em escultura
Vista para a Avenida, a rua do Comércio 
Avenida: escoamento de Pluviais
Da Marina para a Praça Marquês de Pombal
Caminhando para a Marina

Comércio local...Atreva-se!

Nova imagem do Centro da Cidade: bancos inscrição de poesias de António Aleixo
Praça Marquês de Pombal
Pescando do Jardim...com vista sobre Ayamonte!
Sob a Marina...com vista para a zona histórica


Locais a visitar
Igreja Matriz; Arquivo Histórico (Situado no Torreão Sul, foi durante muitos anos detido por particulares, servindo de habitação e local de comércio, e passou a integrar a Rede Nacional de Arquivos em 1999. O Arquivo Histórico Municipal é uma instituição de relevante importância para a reconstituição e para o estudo da história local, contribuindo para a preservação da memória colectiva do concelho de Vila Real de Santo António. Exposição permanente sobre a pesca do atum e as industrias conserveiras de VRSA); Centro Histórico (Para apreciar o plano urbanístico de Vila Real de Santo António é necessário passear pelas suas ruas. Importa começar pela Praça Marquês de Pombal, coração da vila, de empedrado radiante a partir do obelisco erguido em 1776. Ela contém três dos principais elementos urbanos do séc. XVIII: a igreja, a Câmara Municipal e antiga Casa da Guarda. Depois devem percorrer-se alguns quarteirões, erguidos já por iniciativa particular, mas em que é ainda aparente um formulário arquitectónico. A linha de fachadas da Avenida da República, delimitada por dois torreões e contendo o edifício da antiga Alfândega, de largo portal, frontão triangular, é o final do percurso). Praias do Concelho de Vila Real de Santo António (Manta Rota, Praia Selvagem de Cacela Velha, Praia de Santo António, Baia de Monte Gordo).